Pesquisadores descobriram que da multiplicidade de espécies marinhas que consomem microplásticos no oceano, os corais o fazem, pois o gosto do plástico os agrada. Isto adiciona uma outra dimensão surpreendente para o enigma da poluição de plásticos no mar. Mas, isto também evidencia uma possível rota para reduzir o seu impacto na vida selvagem do oceano.
Suas descobertas sugerem que as montanhas de plástico que geramos em terra estão causando algo semelhante ao hábito de comer “fast-food” em corais: Microplásticos–fragmentos desgastados que têm menos de 5 milímetros em tamanho, que transportados pelo mar por rios e escoamento – não possuem valor nutritivo para os animais marinhos, trazendo a sensação artificial de satisfação que os leva à inanição, e provavelmente também levam químicos nocivos a seus corpos. Mas escrevendo para Marine Pollution Bulletin, pesquisadores da Universidade de Duke descobriram que apesar destes pontos nocivos, os corais deste estudo consumiram 80% das partículas de plástico que foram expostas em alguns casos, até mesmo quando existiam opções alternativas comestíveis.
Presume-se que os pássaros, tartarugas, e peixes consomem plásticos e microplásticos porque se parecem muito com a presa natural dos animais. Mas os corais não conseguem enxergar. Em vez disso, eles encontram seus alimentos através de quimiorrecepção, um processo que eles usam para detectar certos compostos nos alimentos que boiam que, em seguida, dispara uma resposta de alimentação. Então os pesquisadores presumem que os corais estão identificando ingredientes desconhecidos no plástico que os leva ao consumo. “Quando o plástico vem da fábrica, este possui aditivos químicos. Qualquer um desses produtos químicos ou uma combinação deles poderia agir como um estimulante que faz o plástico atraente para os corais “explicam.
Eles fizeram esta descoberta em uma série de experimentos laboratoriais onde uma espécie de corais chamada A. poculata foi colocada dentro de tanques com água do mar e exposta a diferentes tipos de plásticos e outros alimentos. Em um experimento, os corais que receberam grãos de areia e microplásticos mostraram uma esmagadora preferência pelas partículas de plástico. Em outro experimento, os corais foram alimentados de plásticos cobertos por um biofilme microbiano, bem como plásticos isentos de micróbios, para determinar se isso alteraria sua preferência. Mas mesmo assim, consumiram três vezes mais microplásticos limpos que aqueles cobertos com matéria orgânica comestível.
Claramente, os corais consomem plásticos não apenas por acaso, mas por preferência – provavelmente porque contêm compostos específicos que reconhecem, erroneamente, como alimento.
Esta pesquisa não é a primeira a fazer associações entre poluentes sintéticos e animais que utilizam a quimiorrecepção para se alimentarem. Os estudos precedentes mostraram que o petróleo bruto também induz uma resposta de alimentação no Cnidária, o filo de animais em que os corais pertencem. E enquanto esta é uma tendência preocupante, se pudermos identificar o que são esses compostos, isto poderia a longo prazo levar à fabricação de plásticos que não possuam estas substâncias. Isso poderia torná-los menos atraentes não só para os corais, mas para muitos outros animais marinhos que também dependem de sensores químicos.
Até 950 milhões de toneladas de plástico são previstas para estar nos oceanos até 2050: “a propensão do plástico em imitar o gosto, o cheiro, a aparência e a textura de itens alimentares terão consequências cada vez mais terríveis para a saúde ambiental e humana,” os pesquisadores escrevem. Os estudos futuros que identificam os compostos precisos no plástico poderiam consequentemente “ajudar significativamente a reduzir a ameaça que estes microplásticos representam,” dizem.
Source: Allen et. al. “Chemoreception drives plastic consumption in a hard coral.” Marine Pollution Bulletin. 2017.
Image: NOAA Photo Library via Flickr