Os gambás-pigmeus das montanhas da Austrália estão entre as criaturas mais raras do planeta. Menos de 2000 marsupiais do tamanho de um camundongo permanecem, espalhados em três altas cordilheiras alpinas; em 2008, uma dessas populações já havia diminuído para menos de 20 indivíduos. Parecia que logo seriam extintos, uma vela biológica tendo atingido o fim de seu pavio. Agora que o pavio foi estendido, talvez indefinidamente, graças em parte a seis machos que os conservacionistas capturaram de outra larga população e introduziram em um ato chamado “resgate genético” que sugere o potencial para intervenções similares em outros casos.
“O projeto do gambá-pigmeu da montanha não é apenas sobre salvar o gambá-pigmeu do Monte Buller”, diz o biólogo Andrew Weeks da Universidade de Melbourne, referindo-se ao local geográfico da população resgatada. É “mais no geral sobre abrir a porta para que salvemos outras espécies ameaçadas com uma abordagem similar”.
Escrevendo para a revista Nature Communications, Weeks e seus colegas descrevem os resultados de seu trabalho, que vem inflando a população do Monte Buller com cerca de 200 adultos — o maior já registrado lá, e também o mais geneticamente diversificado. Antes do resgate, estimou-se que os gambás-pigmeus do Monte Buller tinham sido isolados por pelo menos 20.000 anos, deixando para trás uma herança genética muito reduzida, através da qual o DNA desses seis machos transplantados atualmente se espalhou.
Alguns pesquisadores tinham a preocupação de que os híbridos fossem prejudicados, com genomas divergentes por milênios, agora mal adaptados para se misturarem. Este não parece ser o caso. Os descendentes híbridos tendem a ser fisicamente maiores, mais jovens e tendem a viver mais. “Isto ressalta o valor imediato do resgate genético para a saúde da população”, escreve a equipe de Week, e embora o sucesso dos gambás não seja devido inteiramente à genética —conservacionistas também têm protegido o seu habitat e eliminado seus predadores com renovado vigor — mas certamente parece ser crucial.
Quando a população do Monte Buller atingir 500, diz Weeks, sua durabilidade deverá estar garantida por pelo menos um futuro imediato. A segurança a longo prazo exigirá não somente um impulso genético mas também a restauração e a reconexão de parcelas de habitat agora fragmentadas na região. Esta é uma parte importante da lição do Monte Buller: sem um habitat protegido, estas espécies necessitariam de suporte artificial a longo prazo, dependentes de transfusões genéticas regulares.
A lição pode se revelar valiosa. Afinal, os gambás-pigmeus da montanha não são únicos nesta situação. “muitas espécies ameaçadas agora incluem populações pequenas e fragmentadas que podem ter sido isoladas por longos períodos de tempo”, escreve Weeks e colegas. Eles ainda podem ser resgatados.
Source: Weeks et al. “Genetic rescue increases fitness and aids rapid recovery of an endangered marsupial population.” Nature Communications, 2017.
Image: Department of Environment & Primary Industries / Flickr